MARIA IMAGINÁRIA
MARIA IMAGINÁRIA
por José Plínio de Oliveira*
Maria Imaginária,
Tu esculpiste dentro do meu peito
A chama inextinguível de um amor inapagável.
Assim como as tuas mãos lapidavam o
madeiro rude
(Para o relicário mudo de
crenças, bênçãos e mistérios)
As minhas mãos deslizaram
sobre o teu corpo inerte,
Como as calmarias pardas
das noites cálidas do Mucuri.
Maria Imaginária,
Seduziste-me e eu me
deixei seduzir.
Com a minha placidez de
Peregrino Cearense
Deixei-me consumir pelas
tuas volúpias insaciáveis.
E em pleno orgasmo
pronunciamos sussurros entrecortados
Por gemidos guturais de
um Amor que não conhecerá
A morte.
Maria Imaginária,
Puseste nos meus lábios
O mel de Iracema e o fel
do cálice de Ibiapina.
Em Canudos, povoaste o
meu imaginário.
O meu olhar iconoclasta e crédulo
encheu-se de ti.
Vi do Alto da Favela
A simetria mágica dos
teus seios rijos
Como os cumes gêmeos do
Aracati.
Belos Montes! Ante o meu
olhar perdido.
Estou consumido pela
nostalgia que vem ti.
Vem deitar comigo nesta
rede erótica
Do meu desejo onírico. Vem...
Sofro a amargura do
degredo.
Quero folgar no
acolhimento do teu sexo.
Vem...
Maria Imaginária,
Uma noite sonhei que
saíamos a fazer amor
No Rancho do Vigário...
Todo o relicário que
esculpiste disposto aos nossos pés.
Rente ao chão, pousava o Breviário
E não havia limites para os nossos
afagos e carícias
Todas as malícias foram
dissipadas
E o nosso Amor consumia
toda a guerra,
E eu voltava amante para
o Ceará.
Não havia mais Arthur
Oscar.
Moreira César era o
outro.
Maria Imaginária,
Por que a vida nos jogou
pra tão distante?
Por que o dispare é o meu
calvário?
Por que tornei-me andarilho
e solitário?
O que nos fez opostos e
intrínsecos?
O que fazer no dorso deste
século?
Como vencer a mácula
oculta?
Como afastar a taça de
cicuta?
Como apagar sem ti a
última chama?
Serrinha, 10/04/2016
*PROFESSOR DE LITERATURA BRASILEIRA NO
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E TECNOLOGIAS – CAMPUS XXII DA UNIVERSIDADE DO
ESTADO DA BAHIA – UNEB. EM EUCLIDES DA CUNHA.
Leave a Comment