Canudos à Contraluz Na Cultura Literária

FARINHADA

FARINHADA
por José Plínio de Oliveira*


Meu Compadre Zé Vicente,
Por aqui, o mundo gira
Rente com as suas agruras
Uma cuia de farinha
E um taco de rapadura
Vale um bando de dinheiro
No dia que a feira vem.
Eu nunca tive um vintém
Pra gastar com Mulé Dama.
Deitado em riba da cama,
Eu sonho é com o Bom Conselho.
Quando quebrei meu joelho,
Correndo atrás de um garrote,
Eu tive uma grande sorte
De me achar compungido.
Eu fui à Eucaristia
Na Sexta-Feira Maior
Não há pior desatino
Que um cabra sem confissão.
Eu não!
O que eu trago na algibeira
É para a obrigação.
Eu cuido do meu destino
Como uma mãe do seu filho.
O brilho da minha sina
Tá na Vitória da Cruz.
Compadre José Vicente,
Vivendo aqui nesta terra
Não há cabra destemido
Que se deleite a remanso.
Todo o ranço de maldade
Que acomete a maioria
Não entra na minha história
Pela Glória de Jesus.
Vou levando a minha cruz
No rumo do meu calvário
Nenhum sufrágio arbitrário
Se assenta no meu alforje
Rezo à forma de São Jorge
Não me desvio da luta.
Minha labuta é comprida,
Eu devo reconhecer,
Mas também agradecer
Por Deus me haver confiado,
Não obstante meu pecado
E as minhas penas perdidas.
Eu fui numa farinhada,
Na casa de Mãe Rufina,
Tinha um bando de menina
Cantando Mulé Rendeira
Eu me assentei no meu canto
Mo'de evitar pabulagem
Todo homem de coragem
Deve de se resguardar.


*PROFESSOR DE LITERATURA BRASILEIRA NO DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E TECNOLOGIAS – CAMPUS XXII DA UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB. EM EUCLIDES DA CUNHA.

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