Canudos à Contraluz Na Cultura Literária

TEMER, TREMENDO TEMOR

TEMER, TREMENDO TEMOR por José Plínio de oliveira*


 

               Choveu em rede social do Sertão de Canudos matéria atribuída ao Sr. colunista Lauro Jardim, do Jornal O Globo do Rio de Janeiro, notícia de que o eminente ministro presidente da Egrégia Corte de Justiça da República Federativa do Brasil ab irato abdicou de sua merecida aposentadoria em represália ao presidente em exercício do Brasil, visando a impedir que esse último venha a nomear o seu substituto na ostentação austera da toga augusta, durante o seu exercício de primeiro mandatário do nosso país. Convém lembrar, não parece, mas este Brasil é também do querido Sertão de Canudos. Afirma ainda a matéria que a autoridade suprema do Poder Judiciário do Brasil demonstra insatisfação com aumentos de valores de vencimentos dos membros do judiciário, ainda não satisfatoriamente atendidos pelo presidente da República em exercício. Será que o presidente da Egrégia Corte de Justiça pretende pirraçar o presidente em exercício da falida, agonizante e combalida República Federativa do Brasil, quando a grande maioria dos servidores públicos está sem reajuste de vencimentos e com a inflação galopando como um cavalo árabe? Se a cabeça de uma autoridade exponencial do Supremo Poder Judiciário do Brasil, se for o caso, é capaz de pensar e agir dessa forma, como será a cabeça de um narcotraficante, também se for o caso, a cabeça de “Dono de um morro”, de um estuprador, de um pedófilo, de um homófobo crudelíssimo, de um homicida bárbaro, de um torturador sádico e troglodita? Aliás, quando vivi, trabalhei e estudei no Rio de Janeiro, principalmente na Baixada Fluminense, predominava um pensamento que assim afirmava: “De bunda de bebê e cabeça de juiz nunca se sabe o que pode sair!” Portanto, se houver alguma crise ainda que tênue entre Executivo e Judiciário, faço votos para que o Temer negocie com a mais elevada e antiga Sabedoria.
               Se prevalece a antiga Sabedoria: Assim como é em cima, é embaixo, se o meliante bárbaro reflete a mentalidade das Potestades do Poderes Constituídos, pode o Brasil erradicar a violência bárbara e hedionda que vem trucidando milhares de vidas humanas e aterrorizando a sociedade civil dita organizada? É possível imaginar uma justiça provinciana, medíocre, reacionária, vingativa, inquisitorial, medieval, prepotente e arrogante no Terceiro Milênio do Brasil? Não! Assim é demais. Causa espécie aqui nesta parte remota do Universo Caatingueiro da Bahia onde grande parte da população pobre subsiste em estado de calamidade humana. É um absurdo! E ainda se vocifera o discurso constitucional de que “Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente nos termos desta Constituição”. (Parágrafo único do Artigo I da Constituição da República Federativa do Brasil.
               Aqui no Sertão da Bahia. NÃO! Historicamente aqui o Poder emana da Aristocracia Dominante que o detém para oprimir, matar camponeses paupérrimos para tomar-lhe terras, explorar trabalhadores em condições semiescravas, forjar empresas e “laranjas” para saquear instituições bancárias oficiais, manipular o fornecimento de água potável como instrumento de opressão, obstruir o acesso aos Direitos Humanos e à justiça plena, negar o direito à assistência médica e à Educação Escolar de Qualidade e Inclusiva, negar o direito humano à alimentação básica de comprovada qualidade nutricional, à cultura de qualidade estética e artística, e a tantos outros direitos inerentes à vida humana. Entretanto, tudo isso é dissimulado com o cinismo perverso e ignóbil que os Poderes Dominantes impõem às massas alienadas, manipulando as linguagens abjetas da Indústria Cultural, a serviço desses poderes hegemônicos, sob o pano-de-fundo de uma falsa alegria popular.
               A falsa alegria popular gratuita que o sistema macabro de exploração e opressão aqui nos grandes territórios do Sertão de Canudos apresenta às demais regiões do Brasil e do mundo como verdade, é uma enorme hipocrisia leviana. Por exemplo, apresentações de shows bregas e de sertanejismos ridículos e grotescos, e bandas carnavalescas; tudo pulverizando linguagens promíscuas em períodos tradicionais de culturas juninas; incitando a violência, reforçando comportamentos de desregramentos cínicos com abusos de drogas e de bebidas alcoólicas, vulgarizando as figuras femininas com epítetos de “cachorras”, “galinhas”, “piriguetes” e etc. condicionam as massas a uma alegria falsa.
                As chamadas Prostitutas Felizes que protagonizam as devassidões e os desregramentos de cima dos trios elétricos exercem influências terríveis sobre o imaginário do oprimido. Elas próprias vulgarizando de forma repugnante o corpo e a sexualidade da mulher, ou seja, a mulher vulgarizando o corpo e o sexo da própria mulher. E as pessoas simples, execradas, humilhadas e excluídas do direito a uma cultura de qualidade ainda riem e rebolam atrás dos trios elétricos das “bandas”, que levam o grande público pobre e oprimido a todas as formas de desregramentos: meninas de 11 e 12 anos de idade drogadas ou alcoolizadas sendo estupradas, violentadas, seviciadas e contaminadas com o vírus do HIV, engravidando sem saber de quem. Isso pode ser Alegria popular no sentido estrito do termo? Tudo isto é muito contraditório aqui nesta parte do Nordeste, porque a cultura do cinismo leviano e torpe convive de mãos dadas com a escalada da violência troglodita. É muito estranho mesmo! Com tudo isso, quero deixar muitíssimo óbvio que esta minha leitura realizada de dentro do âmago do objeto periferia humana é hiper realista, portanto, não tem e não pode ter nenhum sintoma de denotação moral, ainda que o mais tênue sintoma, pelo contrário, é uma leitura radicalmente amoral, feita de dentro do hemisfério em que a humanidade do Sertão de Canudos é mais explorada, mais execrada e mais flagelada.
               A propósito, em sua obra prima Les Essais, Montaigne recomenda-nos adentrar aos espaços mais periféricos, pobres, miseráveis e abjetos da sociedade humana, para melhor nos apercebermos da realidade e aprofundarmos o pensamento. Não que Montaigne defenda ou tenha interesse na fossilização da miséria, da exclusão social e da exploração do homem pelo homem. Pelo contrário, todo aquele que se atreve a pensar deve trabalhar pela transformação da realidade, e jamais pela estagnação e exploração dela. Neste sentido, Montaigne se distancia muito do pensamento de Maquiavel.     
               A bem da verdade das Ciências Humanas, os nossos territórios caatingueiros são culturalmente débeis e flutuantes, em que indivíduos frágeis encontram uma realidade porosa. Só pessoas fluidas, ambíguas, em estado de permanente manipulação e submissão servil podem se adaptar a esses territórios. Todavia, são indivíduos que refletem o caráter fragilizado de um Brasil campeão de crises. Portanto, o povo do grande Sertão de Canudos é um povo triste, acabrunhado, melancólico e em muitos casos deprimido, mas que por força dos condicionamentos impostos pelas forças aristocráticas dominantes é constrangido a contracenar com o cinismo, fingir “felicidade” e rir da sua própria miséria. Há relatos de que os índices de pessoas jovens e adolescentes portadoras de patologias depressivas graves são alarmantes, o que leva a pensar não obstante tantas “festas”, forrós, pagodes, axés, arrochas e vaquejadas. Nesta perspectiva de leitura, pensar dói. Logo, pensar a Bahia de dentro dos territórios culturais do imenso Sertão de Canudos, das superestruturas mais densas, dói como um espinho de mandacaru encravado no âmago do coração.   
               Visto de dentro destes territórios, o Brasil está atolado em crises de todos os ônus, do financeiro ao moral, da corrupção ao crime hediondo, dos disparates à miséria parda. Os servidores públicos do Estado da Bahia estão condenados a reajuste zero não se sabe até quando; apesar de tantas “festas”; e muitos servidores públicos do Rio de Janeiro estão na iminência de pedir esmolas nas vias públicas, principalmente agora com Olimpíadas apolíneas e turistas estrangeiros milionários desfilando pelas ruas do Rio. Amigo carioca, aequam memento rebus in arduis servare mentem!
               Data vênia! Parece que a Autoridade da Lei deixa evidentes duas questões fundamentais para o âmago do ordenamento jurídico do Brasil contemporâneo: primeira, os doutos ministros do STF devem ser empossados na nobre missão de julgar e defender a Constituição Federal somente através de concurso público insuspeito, idôneo, incorruptível e incólume realizado com as participações de membros dos Tribunais Internacionais de Justiça, de que o Brasil é signatário; assegurando aos aprovados em concurso público todas as garantias inerentes ao exercício da nobre função de julgar; inclusive com vencimentos e demais direitos pecuniários compatíveis e inerentes a essa função, bem como garantias fundamentais de autoridade, justa independência e incolumidade no exercício da nobre missão de julgar quem quer que seja, também asseguradas pela ONU, OEA e Tribunais Internacionais, em casos de crises turbulentas tais as que soem acontecer com frequência no Brasil, para não ocorrer aqui o que se passa agora no Turquia, com tantos magistrados perseguidos pelo governo e, pasmem! Encarcerados como meliantes comuns. Segunda impedir que presidente da República do Brasil que nomeie ministros de Tribunais e Corte Suprema de Justiça tenha influência e precedência sobre eles, conforme declarações levianas e vergonhosas feitas em telefonemas gravados de autoridade públicas com foro privilegiado.
               A propósito de escrever estas linhas de dentro da área de influência direta do Sertão de Canudos, mencionando Tribunais Internacionais, será que o Poder Judiciário do Brasil teria a independência, a isenção e a autoridade de condenar o Estado brasileiro a reparar as atrocidades hediondas perpetradas contra Canudos durante a guerra covarde de 1897, cujas consequências drásticas ainda persistem? Convém estar atento que até os dias atuais descendentes de sobreviventes da Guerra de Canudos ainda relatam massacres, degolas, violações e holocaustos humanos que estarreceriam Hitler e seus asseclas. Portanto, assim como os Tribunais Internacionais condenaram a Alemanha a reparar as barbáries impostas ao Povo Judeu, quero nestes termos, formular um apelo patético às Associações Judaicas no Brasil e no mundo, assim como também às Associações Árabes que intercedam junto ao Poderes Constituídos do Brasil para que tomem essa justa decisão. Será que o Povo Judeu radicado no Brasil, em respeito à Memória dos seus ancestrais que foram exterminados nos campos de concentrações nazistas, não terá a sensibilidade solidária de interceder junto aos Poderes Constituídos do Brasil no sentido da justa reparação ao Povo Histórico Remanescente do Holocausto de Canudos? Quero deixar muito óbvio que este meu apelo não tem nenhuma pretensão pessoal, nenhuma conotação político-partidária, filosófica, religiosa ou de qualquer outra natureza, mas tão somente respeito e solidariedade humana às vítimas da Guerra de Canudos, do Nazismo, da Al Qaeda, do Estado Islâmico e dos últimos atentados ocorridos na Europa e no mundo.
               Mas, voltando à matéria do douto e eminente cronista carioca Lauro Jardim, creio que temer o Temer é um temeroso temero temerário. Na verdade, aparentemente, para o Temer faz pouca diferença nomear ou deixar de nomear ministros de Tribunal Superior ou do STF. O Temer é um velho político esperto e bem sucedido na carreira, herdeiro ideológico dos legados políticos de Mário Covas, Ulisses Guimarães e Tancredo Neves. O Temer é muito preparado, descendente de árabes experimentados nos ofícios de caravanas que demandavam a negociar mercadorias no coração da África para revende-las aos fenícios. Por isso Temer é um grande negociador que, em sendo descendente de árabes, é capaz de vender folhas de parreiras a judeus ortodoxos. Além disso, para bem negociar, o povo de origem libanesa desenvolveu-se demograficamente no Brasil de forma surpreendente. Certa feita, ouvi o poeta Raimundo Fagner, descendente de libaneses, declarando em uma entrevista de TV que, os filhos desse povo são tão numerosos no Ceará que, quando um presidente do Líbano visitou o Brasil, a única cidade em que ele não teve necessidade de tradutor foi Fortaleza, “porque todo mundo entendia o que ele falava”, segundo as palavras do vate da Terra de Iracema.
                Claro que nenhum político chegará ao poder com o meu voto, o que presencio aqui nesta parte ignota do Sertão de Bahia me impede de votar mesmo que eu desejasse do mais profundo da alma. Aliás, um indivíduo como eu que da Baixada Fluminense ao Sertão de Canudos tem presenciado tantas e tamanhas atrocidades, por razões intrínsecas de foro íntimo nunca mais pode votar ou recomendar a alguém que o faça. Todavia – respeitadas as devidas proporções – somente devo ter em comum para com o Temer a devoção a NOSSA SENHORA DO LÍBANO. Aliás, não somente para com o Temer, mas devemos todos ter terna ternura eterna para com toda a colônia libanesa radicada no Brasil, que assim como os judeus, os orientais, os africanos e os demais povos vindos das mais diversas regiões do Planeta Terra ajudaram a construir este país que não pode ser demolido por crises, corrupções, avarezas, violências e ganâncias. Reputamos a esses Povos as nossas mais elevadas considerações.
                Considerando a história recente do Brasil, jamais se poderá esquecer de que o golpe mortal contra o Regime Militar foi desferido pelo descendente de árabes Sr. Said Farhat que, naquela época, os cariocas advertiam para não confundi-lo com o Sr. Farid Sawan. Este último, representante diplomático do Povo Palestino acreditado junto ao governo brasileiro. Personalidades diametralmente opostas, Said Farhat empresário brasileiro fascinado por cavalos, teria presenteado o general-presidente Figueiredo com um exemplar valoroso da equinaria árabe; ganhou um cargo de Ministro da Comunicação Social e redigiu o célebre e fatídico discurso vociferado por Figueiredo que esfacelava o Poder Ditatorial no Brasil e determinava a volta dos militares aos quartéis. Foi como uma bomba de CESIUM-137 projetada contra o Palácio do Planalto.
               O Sr. Said Farhat, admirador da sabedoria de Hafez Assad e da argúcia e subtileza do Rei Faisal jogou pesado na redação do discurso, e Figueiredo caiu no esparro. O militares alvoroçaram-se, não queriam abdicar dos ganhos milionários, das mordomias de marajás e das corrupções majestosas que auferiam explorando as empresas públicas do Povo Brasileiro. Foi uma verdadeira guerra silenciosa nos bastidores do poder! Os militares tentaram cortar a cabeça de Farhat, mas ele era o ícone brasileiro das mais diversas tendências políticas do Oriente Médio. Os Gorilas recuaram, mas Farhat resolveu deixar o cargo. Figueiredo não lhe devolveu o cavalo, mas a Ditadura Militar caiu logo depois.   
               O Temer não é de cair. Por isso, nenhuma pessoa de bom senso deve temer ao Temor, nem mesmo os membros do judiciário brasileiro. Todo aquele que teme ao Temer não tem nem terá temor pelos milhares de trabalhadores desempregados, desvalidos e despojados que perambulam pelas ruas das grandes cidades brasileiras, recolhendo migalhas para as suas subsistências temerárias. Nem mesmo o PT tem que temer ao Temer, pois que os milhões de votos de que tematizam terem tomado a todos, também foram temperados ao Temer. Que NOSSA SENHORA DO LÍBANO PROTEJA O TEMER PARA TODO O SEMPRE!    
               Temer, não temas, a Estrela da Manhã brilha sobre ti como o Sol ilumina o Vale do Bekaa!
               Os libaneses pioneiros legaram valores preciosos ao Brasil, entre os quais a máxima: “Cavalo velho, capim novo!” Fascinados por cavalos, como todo o povo árabe, não os abandonavam quando tornavam-se muito velhos e impróprios para cavalgadas. Mandavam-nos para o Vale de Bekaa com as suas matas exuberantes – de onde Salomão obteve madeira nobre para a edificação do famoso Templo – paisagens extasiantes, pastagens abundantes com o capim sempre novo e com as lagoas generosas, a oferecer água fresca e reconfortante para as velhas cavalgaduras. Também, o Vale do Bekaa é célebre e lendário por suas mulheres belíssimas e sensualíssimas, por isso os velhinhos abastados costumam sair de Beirute para cortejar suas jovens beldades no Vale de Bekaa. Neste sentido, o Temer não traiu o sangue árabe, jamais trairá o Brasil: parece que está no 5º ou 6º casamento; o atual com uma jovem senhora paradigma de beleza escultural que lhe aparenta ser neta. Por isso o seu prestígio está aumentando significativamente aqui no grande Sertão de Canudos perante os homens sábios, sérios e trabalhadores que nas feiras livres e demais espaços populares sérios comentam sobre o Temer: “Cabra Macho! Esse é mais danado do que eu”...
               Todo temor temido a Temer será triturado! Temer temido, Brasil vencido!

                                                                   
                                                                               
                                                      Serrinha, 20 de julho de 2016



*PROFESSOR DE LITERATURA BRASILEIRA NO DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E TECNOLOGIAS – CAMPUS XXII DA UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB. EM EUCLIDES DA CUNHA.                                                        
                                                                 


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